Encontro de estudos em Pierre Bourdieu

Grupo de Estudos em Bourdieu IFCH/Unicamp

3 e 4 de dezembro de 2014

Sobre o GEBu

O Grupo de Estudos em Bourdieu foi credenciado pelo CNPq em 2014. Formado por docentes e alunos do Programa em Pós-Graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Unicamp, o grupo tem por foco o estudo da obra de Pierre Bourdieu e suas intersecções críticas com outros autores que lidam com temáticas similares.

Este Encontro marca o primeiro evento do grupo e tem por objetivo apresentar pesquisas de membros do grupo que tanto se refiram a abordagens teóricas relacionadas a Bourdieu quanto a pesquisas aplicadas. Ainda, o Encontro contará com conferências e minicursos que tem por objetivo promover o diálogo entre as produções do grupo e a comunidade acadêmica mais ampla.

Conferência de abertura
3 de dezembro, 20h Auditório I — IFCH

Prof. Dr. Renato Ortiz Instituto de Filosofia e Ciências Humanas — Universidade Estadual de Campinas

Minicursos

03 de dezembro, 9h-12h Sala Multiuso

A teoria da prática de Pierre Bourdieu Juliana Closel Miraldi

O minicurso objetiva introduzir a obra bourdieusiana e apresentar a teoria da prática elaborada pelo sociólogo francês sob dois pontos de vista: o da construção das bases epistemológicas e o da elaboração do sistema conceitual. A partir do diálogo crítico que Bourdieu estabelece com as principais correntes teóricas de sua época, e de sua tomada de posição em relação a elas, visamos demonstrar que o a concepção bourdieusiana de produção de conhecimento científico se funda como processo. Ademais, procuraremos explorar as condições de possibilidades específicas do fazer sociológico, a saber: a posição do observador e do seu campo de produção, a noção de causalidade e as condições de verdade para sociologia. Já no que se refere ao sistema conceitual, iniciaremos tratando da relação entre o econômico e o simbólico na construção teórica de Bourdieu e seguiremos explorando a tríade conceitual “campo”, “habitus” e “práticas”, mas também mobilizando outros conceitos interdependentes e procurando defini-los relacionalmente.

04 de dezembro, 9h-12h Sala Multiuso

A gênese da teoria do habitus Tábata Berg

Pierre Bourdieu iniciou a construção de sua teoria do habitus a partir do trabalho etnográfico que realizou na Argélia, interessado particularmente nas revoltas a favor da independência argelina e de sua relação com o socialismo. Sua principal preocupação era compreender as condições econômico-sociais nas quais a consciência de classe poderia surgir como um elemento revolucionário; mais especificamente, se havia condições de possibilidade do subproletariado e o camponês proletarizado argelino constituir-se em sujeito revolucionário. Bourdieu estava analisando uma sociedade que, na década de 60, ainda era colônia francesa; a colonização foi fator determinante para a entrada da lógica capitalista numa sociedade, até então, pautada em uma economia tradicional. Ele ressalta que, diferentemente da sociedade europeia, cujo processo de construção do modo de produção capitalista e adaptação ao mesmo foi relativamente longo, o colonialismo impõe bruscamente, e de forma exógena, essa lógica às colônias. A relação entre a consciência, as práticas e as contradições objetivas específicas da lógica colonial será, portanto, o ponto de partida para reconstruirmos a gênese da teoria do habitus bourdieusiana. Optamos, assim, por trabalhar com um recorte de textos deste período, são eles: Travail et travalleurs en Argérie (1963); Le déracinement: la crise de l’agricultures traditionnelle en Algérie (1964) e O desencantamento do mundo: estruturas econômicas e estruturas temporais (1977, 1979). Os dois primeiros textos foram escritos em períodos muito próximos, todavia, eles tiveram enfoques distintos, ainda que profundamente interligados, aos quais sempre que necessário faremos referência. Estes textos que estamos indicando como apoio concentram os principais fundamentos da gênese da teoria do habitus, fundamentos estes que permaneceram presentes, em grande medida, em todo o seu processo de construção. Neles, Bourdieu estabelece a primazia das condições materiais de existência – condições econômicas e sociais – sobre a consciência (habitus) e as práticas. Em resumo: o habitus (em sua gênese) e, consequentemente, as práticas estão sempre, para Bourdieu, ancorados nas condições materiais de existência e só podem ser compreendidos em referência a elas. Faremos uma breve reconstrução da gênese das questões expostas anteriormente, tendo como ponto de partida os três textos, citados acima, deste período, dos quais o último é uma síntese dos dois primeiros, uma sistematização conceitual das questões presentes neles de forma esparsa.

Proposta Completa